terça-feira, 13 de janeiro de 2009

XXXVI

Há muito tempo atrás, quando eu era adolescente, sonhava com o dia da minha morte.

Mentalmente delineei todos os passos. Morreria jovem. Morreria só. Os meus (poucos) amigos compreenderiam. Celebrariam a minha libertação dos grilhos da vida.

Deitava-me sem que tivesse morrido porque teria que ser (n)um dia perfeito. Nada de cartas de despedida, apenas perfeito, como eu tinha idealizado.
Deitava-me a pensar que seria se no dia seguinte que eu morreria, estivessem criadas todas as condições para morrer nesse dia.

Ninguém escolhe o modo como se nasce. Alguns podem escolher o modo como se morre. E a minha vida toda baseou-se nisso, na minha escolha sobre a minha própria morte.

Entretanto vieram outras responsabilidades. Cometi o erro de casar. Teoricamente tenho a vida perfeita. Mas eu sei como pesa querer escolher o dia perfeito e a hora perfeita e o modo perfeito e não poder escolher. Há muito tempo que deixei de partilhar esta minha ideia com outras pessoas e mesmo em namoro nunca foi tema abordado. Tenho um lado desconhecido que só eu conheço.

De qualquer modo ainda não sei qual seria a minha opção. Cortar os pulsos implicaria muito sangue. Comprimidos iam adormecer-me e não iria estar totalmente entregue à sensação de me libertar desta vida. Uma queda de edifício poderia prejudicar terceiros e morrer de queda de falésia para o mar, por muio poético que possa parecer, pode dar em paraplegia e não tendo eutanásia como opção o melhor é não correr riscos.

Tenho até ao fim da vida para planear o fim da minha vida.

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