segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

XLIII

Quantos somos que todos os dias inventamos novos modos de pôr um termo à nossa vida sem que ninguém descubra que foi nossa intenção e sem pôr a vida de mais ninguém em risco?

Quantos somos que todos os dias nos levantamos e o primeiro pensamento é que poderá ser hoje?



Se para morrer basta estar vivo o que precisa alguém que não vive de fazer para morrer?

XLII

Até para cometer o meu suicídio* a apatia e falta de vontade é superior.


*Porque acham todos que falar em morte e em suicídio é tabu? Porque não se pode falar do que se sente? Porque será obrigatório que uma pessoa que não goste de viver tenha que ser uma pessoa insana e mentalmente desequilibrada? Há pessoas que não gostam de chocolate, há pessoas que não gostam de arroz. Essas não são internadas, não têm que fazer psicoterapias nem tomar anti-depressivos.

Porque é que ser fascinado pela morte e ocupar uma boa parte do tempo a planificar um suicídio tem que ser sinal de instabilidade? Pelo contrário, demonstra muita estabilidade no que se sente diariamente que é uma vontade quase nula de viver.

Eu não gosto de viver e tenho que acordar todos os dias. Tenho que fingir que gosto todos os dias. Tenho que fingir que não penso em morrer todos os dias todos os dias.

O meu coração bate, a minha cabeça pensa mas não é isso que faz de mim uma pessoa viva.

XLI

Hoje o dia está a ser suavemente difícil.

A dor é lancinante e rasga de alto a baixo mas conforta por ser conhecida.

A vontade de acordar todos os dias é nula.

A vontade seja do que for é nula.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

XL

À minha volta todos parecem achar a vida demasiado curta.

Não tenho coragem de dizer que a acho muito longa.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

XXXIX

Certo dia há pouco tempo estava naquele limbo entre estar a dormir e estar acordado, aquele limbo em que o nosso corpo está leve e parece que pairamos e em simultâneo a mente viaja para lugares mais calmos noutros mundos imaginados.

Nesse dia há pouco tempo, antes de adormecer, pensei que tinha sido um bom dia para ter tomado frascos e frascos de comprimidos.

Sei que sorri antes de dormir, tinha sempre a hipótese de nunca mais acordar e a paz que o sono me trazia queria eu que fosse eterna.