quarta-feira, 29 de abril de 2009

LIII

Talvez porque o dia está fosco, talvez porque parece baço, talvez por causa da crise (boa desculpa para tudo), talvez por ser fim do mês. Talvez por tudo. Talvez por nada.

Hoje as memórias pesam-me de tal modo que me trazem para baixo. Olho-me no espelho e vejo só um vulto sem forma.

Se existe uma crise dos 30 ela pode acontecer aos trinta e qualquer coisa? Deve poder. Devo estar com uma. Devia tomar um paracetamol. Um tranquilizante. Um sedativo. Um anti-depressivo. Fumar uma ganza. Rir.

Faz-me falta rir. É isso. Preciso rir mais. Mas só de pensar em rir tenho vontade de chorar, porque sei que rir não é remédio para nada. Rir? De quê? Rir insanamente porque tem que ser porque fica bem porque sim.
Não. Não quero rir. Não, não quero chorar. Quero que me passe esta dor confusão impressão que me aperta de dentro para fora, que me espreme que me sufoca!

Não sei exactamente o que tenho que fazer mas como vou viver mais 50 anos nesta angústia?

terça-feira, 21 de abril de 2009

LII

A pedido do JLFT escrevo aqui umas palavras breves.

Este é um blog de refúgio para a minha alma. Não sou um suicida. Não tenho qualquer tipo de intenção de pegar num bloco de papel, numa caneta e esgatafunhar à pressa meia dúzia de palavras típicas de pedidos de desculpas e justificações.

Este blog serve para isso mesmo: para poder aqui morrer tantas vezes quantas desejar sem que o tenha que fazer fisicamente.

Medo? Não tenho medos. Nem receios. Gosto da morte, fascina-me, desejo-a. Então porque não morrer? Por medo? Não, medo não, mas não sei. Algo me diz que ainda não é hora, espero mais um bocadinho e estes bocadinhos que espero vão acumulando os anos que cá passo.

Mentiria se não dissesse que já não estive prestes a apressar a minha ida. Três foram as vezes em que fui interrompido. Três foram as vezes em que tive que me justificar e convencer que não é patológico mas uma característica minha.

Não há duas sem três, à terceira é de vez e à terceira percebi que foi o fim de tentar. Se a sorte ou azar foram tantos que nunca passei da preparação de tudo então é porque algo, alguém, o que seja, me quer aqui para ver, fazer, suportar qualquer coisa.

E vivo assim, com essa na cabeça e com este blog onde posso morrer as vezes que precisar sem magoar, sem explicar sem desaparecer.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

LI

Olho para o meu arquivo aí de lado e apercebo-me que escrevo em rajadas.

Podia escrever dia-a-dia, talvez fosse mais fácil? O que seria mais fácil? Suportar? Suportar o quê? O fardo? Pois... o fardo.

O fardo não é a vida.

Alguns leitores, os poucos que aqui passam, olham-me como um freak marado que não tem coragem de se atirar pela janela.
Talvez até de vez em quando se lembrem de vir aqui espreitar a ver há quanto tempo não se escreve nada de novo e se eu um dia concluir que sim e que a morte é sem dúvida a solução ninguém poderá aqui avisar porque ninguém sabe deste blog.

Ali pelo arquivo do lado a média são uns 5 ou 6 escritos por mês e que chegam todos na mesma altura. Nem eu sei se é coincidência ou não.
Venho aqui quando o murro no estômago me impede de respirar e quando as lágrimas sufocadas e gritos reprimidos correm o risco de soar estridentes de repente.
Assusta-me a ideia de ficar uma temporada num hospital psiquiatrico. Assusta-me a ideia dos chefes e colegas me verem como um weirdo qualquer.

Então venho aqui gritar.

Venho aqui gritar que o fardo não é a vida nem viver. O fardo é querer viver e não conseguir. Querer morrer e ter consciência que o destino prega-nos partidas.

Eu não tenho medo de morrer, pelo contrário, tenho muito medo de tentar e não conseguir o que acho que são coisas diferentes, a meu ver são.

Passam-me coisas pela cabeça desde "e se fico paralítico?" até "afinal existe vida eterna".

E se existe vida eterna e um suicídio nesta vida é um chegar mais rápido à outra? De que adianta então morrer aqui se vou viver noutro lado?


E se estou condenado a viver?

quinta-feira, 2 de abril de 2009

L

Sou uma pessoa patética.

XLIX

A beleza da juventude é a inocência com que olhamos para a vida e para tudo o que nos parece inantigível e para tudo o que é tangível e acreditamos que vamos para o futuro de braços abertos.

Prometemos que não nos corromperemos. Fazemos juras de amizade eterna. Pactos de sangue.

O primeiro amor é intenso, puro, doce e amargo, doi e liberta.
Depois perdemos toda a inocência. Se pensar no passado diria que a inocência da (minha) juventude se perde(u) quando nos(me) mata(ra)m o primeiro amor.

Depois disso a queda para a decadência é rápida. Aprendemos a abdicar do que idealizámos pelo prazer de adiquirir pequenos nadas que ambicionamos.

A ambição de termos mata a ambição de sermos.

XLVIII

Porque às vezes sento-me com intenção de aqui escrever e quando os dedos alcançam o teclado, a medo, o que vejo ao olhar o ecrã é a minha pessoa a despir-se da pele que trago, como se fosse um lobisomem em plena transformação.

Acabo por não escrever aqui, fecho o blogger e continuo o trabalho.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

XLVII

Lembro-me de quando andava no liceu: era uma pessoa que estava sempre a rir por muito triste que estivesse. Poucas pessoas conseguiam saber quando eu estava bem. Estar bem era raro, agora já nem tanto.

Se eu estivesse no liceu faria agora como fazia nessa altura: chegava a casa e cortava-me. No braço.
Cortava-me em golpes lentos mas firmes em zonas pouco irrigadas. O sangue, apesar de belo, quente e saboroso tirava-me a visibilidade e o objectivo não era sangrar.
Os golpes repetidos contínuamente nos mesmos sítios cessavam quando a dor física começasse. Apesar de ser esse o meu trato com a minha pessoa muitas vezes não o cumpria quando a dor começava a ser um prazer.

Mas já não ando no liceu. A moda grunge que tanto jeito deu na altura para esconder este aspecto de mim não se aplica a alguém da minha condição social.

Deduzo que pessoas da minha condição social façam musculação, yoga, natação, hip-hop, caminhadas para enganar a dor. Tenham filhos. Bebam copos à noite.

Eu não a engano. Eu quero-a. Apesar de não a poder cortar.

XLVI

Hoje cometi um erro, um erro muito grande.

Fui buscar uma música que me faz mal e estou a ouvir sem parar.