terça-feira, 6 de outubro de 2009

LXIV

A chuva cai lá fora.

Dá-me a sensação, se deixar o olhar perdido no vazio, que cada gota se junta com as outras gotas que se juntam em pequenos riachos citadinhos e me covidam a embarcar num qualquer papel amachucado que jazia no chão e agora é levado pela corrente.

Permaneço na minha mutação estática, o meu corpo presente. Deixo os pensamentos embarcarem nessa viagem, a minha mente ausente.

Hoje viajo pelo passado. Não quero. Não vale a pena. Não vai mudar nada. Não quero a nostalgia nem a dor da lembrança nem as alegrias que foram mas lá ficaram porque o passado é isso mesmo, deixar a parte pesada e trazer a memória mais leve, e estas alegrias e tristezas todas elas me pesam agora, memórias que doem mesmo de momentos tão felizes. Ainda me faz doer mais por ter sido já tão feliz. E agora é que percebo.

Sinto a dor acutilante que cada memória que me atravessa provoca. Não quero, não procuro, mas a chuva que me leva a concentração não pára.



Onde estão as pessoas que povoam o meu passado? Onde estão todos e todas os e as companheiros e companheiras de percursos?

Como se supera a dor de descobrir que temos companhia ao longo de pequenos trajectos? Como se supera a dor antecipada do medo de não saber quando e "onde" é que a companhia presente vai ficar.

Até quando? Quanto tempo? Quanto tempo vou demorar a aprender a aceitar e a saber viajar sem companhia?

segunda-feira, 20 de julho de 2009



[GNR, Valsa dos Detectives]

... é só, paranóia, mania da perseguição...

LXIII

Além de trapo sou fraco.

LXII

É mentira.

Neste momento o que mais quero é atirar-me a uma garrafa de vodka.

E beber até morrer.

LXI

Há dias assim: em que dói mais. Não sei o que dói nem o que dói mas dói , dói que consome a alma que acaba por consumir o corpo.

A comida não se achega à boca porque o cheiro provoca náuseas e as náuseas tiram a fome.

O sorriso não chega à boca porque o sorriso não disfarça a confusão da alma e a qualquer momento um sorriso pode trair a alma e não sei quando vou romper num pranto infindável.

Há dias assim: em que dói tudo sem saber onde dói. Hoje é um desses dias malditos em que dói tanto que não consigo esboçar um sorriso, não sei se acabo num mar de lágrimas.

Um dia deixará de doer, um dia deixara de doer e falta menos um dia. Sinto-me condenado a viver uma eternidade, a eternidade da dúvida de não saber quando vai acabar a vida.




Não me quero refugiar em drogas. Seria mais fácil e talvez mais rápido de fazer esta "viagem"; não quero, não sei o dia de amanhã e amanhã apesar de parecer hoje outro dia eterno poderá ser o dia em que tudo muda.

Se isso acontecer eu quero estar bem, sóbrio, consciente e festejar.

Se isso não acontecer eu quero sentir a dor da espera eterna do dia em que tudo acaba sóbrio, consciente e atento à espera de um sinal.

LX

Quando era criança / jovem chamavam-me "bicho do mato". Eu gostava de ficar metido para mim mesmo, com as minhas coisas, as minhas leituras, os meus desenhos, as minhas histórias, os meus cenários.

Como adolescente a minha liberdade era limitadíssima, mesmo assim consegui ter um grupo de amigos. Amigos que me ensinaram a não ter medo de me dar com os outros, que me ensinaram que o Sol está sempre lá a brilhar ainda que por vezes algumas nuvens se interponham e não deixem cá chegar o seu calor e luz, amigos que... amigos que estavam lá, estavam realmente lá.

Fizemos promessas de adolescente, que seríamos amigos toda a vida, que no matter what seríamos um por todos e todos por um. Sim, éramos adolescentes.

Tornámo-nos adultos. Se calhar nem crescemos, apenas envelhecemos. Está cada um para seu lado.
Outras amizades se fizeram e se desfizeram, outras amizades se mantêm vivas quase como se estivessem ligadas à máquina.

O que sinto agora é que nunca deveria ter aprendido a confiar em ninguém. Nunca deveria ter deixado de ser aquela pessoa desconfiada que afugentava todos, que todos achavam arrogante por não saberem descortinar o medo. Ao menos parecia forte.

Agora nem pareço nem me sinto. Agora sou um trapo. Um trapo usado que ninguém deita fora porque nunca se sabe quando pode ser preciso. Um trapo que existe para ser usado para limpar o lixo da alma dos outros.



Um trapo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

LIX

Sinto-me [estou] {sou} tão só que até doi.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

LVIII

Aqui está-se mais confortável.

Os poucos que por aqui passam já me vêm como tarado, daqui não esperam nada coerente e é melhor assim: ao menos não desiludo ninguém.

Dou as costas à chibatada quando entendem que de meia dízia de posts por mês acham que me conseguem avaliar psicológicamente e inclusivé sugerir métodos eficazes (e eficientes?) de morte auto-induzida.

Não me interessa os bitaites que sentem necessidade de mandar. Estou a lembrar-me especificamente dos mandados por um(a) Tangerina, aqui há uns meses. É simplesmente curioso e fascinante. A esse(a) deu a impressão que expôr-me nú e crú o(a) ofendeu. Ou atingiu. Revelou apenas não ter lido nada do que escrevi além do óbvio. Mas não deixa de ser fascinante.

É como o JLFT ou a Gigi e a Mimanora. O JLFT abriu-se até mais que eu próprio. Revelou pedaços de si, coisas muito suas que devem ter custado. É ainda mais fascinante, sente-se o calor do abraço que quer dar à distância de um blog.
A Gigi e a Mimanora vêm a receio. Trazidas pela curiosidade? Pelo fascínio quase mórbido de saberem se ainda ando por aqui ou se já não? Por um instinto maternal?

Há ainda o(a) Hibrys que deixou um breve comentário de que destaco uma frase: «O que é normal? O normal é muito relativo. Para mim o normal é o que me dá a mim conforto, mesmo que seja a vontade de morrer.»


Não sei, não sei quantos passam por aqui. Muito menos quem ou o que os traz.

Mas sei indubitavelmente o que me traz, a mim, aqui.

LVII

Nem sei porque vim até "este lado" da blogosfera. Precisei ficar mais só, ver as coisas de longe.

Continuo a sentir o peito esmagado e custa-me respirar. Até ontem podia dizer a quem perguntasse que era da atmosfera carregada, do ar húmido e quente que nos envolvia.

Hoje o dia está limpo. Hoje não tenho desculpa.

Perco mais tempo a arranjar desculpas para me justificar do que a tentar resolver o problema que está por trás de tudo.
No fundo no fundo eu não quero saber dele, quero que me largue, que deixe de ser o meu fantasma, que deixe de me perseguir, que me deixe respirar e sorrir e ser alguém. Mas não, parece um grilho sempre atado ao meu tornozelo.

Arrasto-me pela vida carregando atrás o peso do meu fantasma, um fantasma que alimento sem querer saber que fantasma é. No dia que eu souber que fantasma é ele deixa de me agrilhoar e eu fico livre. Depois não saberei o que fazer com essa liberdade.


Eu sou, eu faço, eu alimento este fantasma.

Já nem me interessa que fantasma é, afinal não me interessa, não. Interessa-me mais saber porque é que eu o alimento e o quero junto de mim.

terça-feira, 16 de junho de 2009

LVI

Apenas quando há dias em que me sinto verdadeiramente mal percebo que os outros - aqueles em que eu pensava que me sentia mal - eram dias em que eu estava muito bem.

Há muito que não tinha dias como os que tenho tido desde há cerca de uma semana para cá em que literalmente só me apetece arrancar a pele.

Contenho-me para não me esgatafunhar todo. Contenho-me para não arrancar o escalpe. Contenho-me para não fazer nada.

Os olhares das pessoas nos meus olhos deixam-me desconfiado: conseguirão elas ler o que me apetece fazer?


Vai passar, é o que me repito, vai passar. É uma fase. Vai passar.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

LV

Hoje apetece-me chorar.

Divago pelos corredores do trabalho para ver se há mais alguém que tenha o meu olhar.

Volto a sentar-me no posto, volto a vestir a pele que visto diariamente neste sítio.

Para onde quer que olhe vejo-me prostrado, lavado em lágrimas, como se fosse uma assombração de mim mesmo.

E então apetece-me chorar, só de me ver assim lavado em lágrimas. Porque hoje está sol, o dia sorri e vejo-me em todos os lados lavado em lágrimas. Dá-me vontade de chorar porque nem quando estou bem consigo estar bem.



Imago de volta a crisálida.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

LIV



(The Doors: The End)


Cá está uma música que representa tão bem um fim.

Não, nunca utilizaria esta música como obituário. Não pelo menos na forma de morte física.

Quantas vezes morremos em nós próprios (?), umas vezes prontos a renascer tal cobra a mudar a pele (?), umas vezes prontos a renascer tal canguru que precisa ainda da bolsa marsupial (?), quantas vezes a desejar deixar o estado larvar e passar à forma de perfeição absoluta, deixando pacientemente amadurecer a crisálida para deixar voar o imago que tão belo se formou?


Quantos de nós conseguimos matar-nos repetidamente na busca da perfeição?

quarta-feira, 29 de abril de 2009

LIII

Talvez porque o dia está fosco, talvez porque parece baço, talvez por causa da crise (boa desculpa para tudo), talvez por ser fim do mês. Talvez por tudo. Talvez por nada.

Hoje as memórias pesam-me de tal modo que me trazem para baixo. Olho-me no espelho e vejo só um vulto sem forma.

Se existe uma crise dos 30 ela pode acontecer aos trinta e qualquer coisa? Deve poder. Devo estar com uma. Devia tomar um paracetamol. Um tranquilizante. Um sedativo. Um anti-depressivo. Fumar uma ganza. Rir.

Faz-me falta rir. É isso. Preciso rir mais. Mas só de pensar em rir tenho vontade de chorar, porque sei que rir não é remédio para nada. Rir? De quê? Rir insanamente porque tem que ser porque fica bem porque sim.
Não. Não quero rir. Não, não quero chorar. Quero que me passe esta dor confusão impressão que me aperta de dentro para fora, que me espreme que me sufoca!

Não sei exactamente o que tenho que fazer mas como vou viver mais 50 anos nesta angústia?

terça-feira, 21 de abril de 2009

LII

A pedido do JLFT escrevo aqui umas palavras breves.

Este é um blog de refúgio para a minha alma. Não sou um suicida. Não tenho qualquer tipo de intenção de pegar num bloco de papel, numa caneta e esgatafunhar à pressa meia dúzia de palavras típicas de pedidos de desculpas e justificações.

Este blog serve para isso mesmo: para poder aqui morrer tantas vezes quantas desejar sem que o tenha que fazer fisicamente.

Medo? Não tenho medos. Nem receios. Gosto da morte, fascina-me, desejo-a. Então porque não morrer? Por medo? Não, medo não, mas não sei. Algo me diz que ainda não é hora, espero mais um bocadinho e estes bocadinhos que espero vão acumulando os anos que cá passo.

Mentiria se não dissesse que já não estive prestes a apressar a minha ida. Três foram as vezes em que fui interrompido. Três foram as vezes em que tive que me justificar e convencer que não é patológico mas uma característica minha.

Não há duas sem três, à terceira é de vez e à terceira percebi que foi o fim de tentar. Se a sorte ou azar foram tantos que nunca passei da preparação de tudo então é porque algo, alguém, o que seja, me quer aqui para ver, fazer, suportar qualquer coisa.

E vivo assim, com essa na cabeça e com este blog onde posso morrer as vezes que precisar sem magoar, sem explicar sem desaparecer.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

LI

Olho para o meu arquivo aí de lado e apercebo-me que escrevo em rajadas.

Podia escrever dia-a-dia, talvez fosse mais fácil? O que seria mais fácil? Suportar? Suportar o quê? O fardo? Pois... o fardo.

O fardo não é a vida.

Alguns leitores, os poucos que aqui passam, olham-me como um freak marado que não tem coragem de se atirar pela janela.
Talvez até de vez em quando se lembrem de vir aqui espreitar a ver há quanto tempo não se escreve nada de novo e se eu um dia concluir que sim e que a morte é sem dúvida a solução ninguém poderá aqui avisar porque ninguém sabe deste blog.

Ali pelo arquivo do lado a média são uns 5 ou 6 escritos por mês e que chegam todos na mesma altura. Nem eu sei se é coincidência ou não.
Venho aqui quando o murro no estômago me impede de respirar e quando as lágrimas sufocadas e gritos reprimidos correm o risco de soar estridentes de repente.
Assusta-me a ideia de ficar uma temporada num hospital psiquiatrico. Assusta-me a ideia dos chefes e colegas me verem como um weirdo qualquer.

Então venho aqui gritar.

Venho aqui gritar que o fardo não é a vida nem viver. O fardo é querer viver e não conseguir. Querer morrer e ter consciência que o destino prega-nos partidas.

Eu não tenho medo de morrer, pelo contrário, tenho muito medo de tentar e não conseguir o que acho que são coisas diferentes, a meu ver são.

Passam-me coisas pela cabeça desde "e se fico paralítico?" até "afinal existe vida eterna".

E se existe vida eterna e um suicídio nesta vida é um chegar mais rápido à outra? De que adianta então morrer aqui se vou viver noutro lado?


E se estou condenado a viver?

quinta-feira, 2 de abril de 2009

L

Sou uma pessoa patética.

XLIX

A beleza da juventude é a inocência com que olhamos para a vida e para tudo o que nos parece inantigível e para tudo o que é tangível e acreditamos que vamos para o futuro de braços abertos.

Prometemos que não nos corromperemos. Fazemos juras de amizade eterna. Pactos de sangue.

O primeiro amor é intenso, puro, doce e amargo, doi e liberta.
Depois perdemos toda a inocência. Se pensar no passado diria que a inocência da (minha) juventude se perde(u) quando nos(me) mata(ra)m o primeiro amor.

Depois disso a queda para a decadência é rápida. Aprendemos a abdicar do que idealizámos pelo prazer de adiquirir pequenos nadas que ambicionamos.

A ambição de termos mata a ambição de sermos.

XLVIII

Porque às vezes sento-me com intenção de aqui escrever e quando os dedos alcançam o teclado, a medo, o que vejo ao olhar o ecrã é a minha pessoa a despir-se da pele que trago, como se fosse um lobisomem em plena transformação.

Acabo por não escrever aqui, fecho o blogger e continuo o trabalho.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

XLVII

Lembro-me de quando andava no liceu: era uma pessoa que estava sempre a rir por muito triste que estivesse. Poucas pessoas conseguiam saber quando eu estava bem. Estar bem era raro, agora já nem tanto.

Se eu estivesse no liceu faria agora como fazia nessa altura: chegava a casa e cortava-me. No braço.
Cortava-me em golpes lentos mas firmes em zonas pouco irrigadas. O sangue, apesar de belo, quente e saboroso tirava-me a visibilidade e o objectivo não era sangrar.
Os golpes repetidos contínuamente nos mesmos sítios cessavam quando a dor física começasse. Apesar de ser esse o meu trato com a minha pessoa muitas vezes não o cumpria quando a dor começava a ser um prazer.

Mas já não ando no liceu. A moda grunge que tanto jeito deu na altura para esconder este aspecto de mim não se aplica a alguém da minha condição social.

Deduzo que pessoas da minha condição social façam musculação, yoga, natação, hip-hop, caminhadas para enganar a dor. Tenham filhos. Bebam copos à noite.

Eu não a engano. Eu quero-a. Apesar de não a poder cortar.

XLVI

Hoje cometi um erro, um erro muito grande.

Fui buscar uma música que me faz mal e estou a ouvir sem parar.

domingo, 8 de março de 2009

XLV

8 de Março.

Até quando serei diferente?

Põe-se outra questão. Sou ou vejo-me como diferente? Porque me sinto diferente?

segunda-feira, 2 de março de 2009

XLIV

Todos encaram os entes queridos como eternos. Esquecem-se sim que a vida é finita.

Por muito infinita que pareça.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

XLIII

Quantos somos que todos os dias inventamos novos modos de pôr um termo à nossa vida sem que ninguém descubra que foi nossa intenção e sem pôr a vida de mais ninguém em risco?

Quantos somos que todos os dias nos levantamos e o primeiro pensamento é que poderá ser hoje?



Se para morrer basta estar vivo o que precisa alguém que não vive de fazer para morrer?

XLII

Até para cometer o meu suicídio* a apatia e falta de vontade é superior.


*Porque acham todos que falar em morte e em suicídio é tabu? Porque não se pode falar do que se sente? Porque será obrigatório que uma pessoa que não goste de viver tenha que ser uma pessoa insana e mentalmente desequilibrada? Há pessoas que não gostam de chocolate, há pessoas que não gostam de arroz. Essas não são internadas, não têm que fazer psicoterapias nem tomar anti-depressivos.

Porque é que ser fascinado pela morte e ocupar uma boa parte do tempo a planificar um suicídio tem que ser sinal de instabilidade? Pelo contrário, demonstra muita estabilidade no que se sente diariamente que é uma vontade quase nula de viver.

Eu não gosto de viver e tenho que acordar todos os dias. Tenho que fingir que gosto todos os dias. Tenho que fingir que não penso em morrer todos os dias todos os dias.

O meu coração bate, a minha cabeça pensa mas não é isso que faz de mim uma pessoa viva.

XLI

Hoje o dia está a ser suavemente difícil.

A dor é lancinante e rasga de alto a baixo mas conforta por ser conhecida.

A vontade de acordar todos os dias é nula.

A vontade seja do que for é nula.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

XL

À minha volta todos parecem achar a vida demasiado curta.

Não tenho coragem de dizer que a acho muito longa.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

XXXIX

Certo dia há pouco tempo estava naquele limbo entre estar a dormir e estar acordado, aquele limbo em que o nosso corpo está leve e parece que pairamos e em simultâneo a mente viaja para lugares mais calmos noutros mundos imaginados.

Nesse dia há pouco tempo, antes de adormecer, pensei que tinha sido um bom dia para ter tomado frascos e frascos de comprimidos.

Sei que sorri antes de dormir, tinha sempre a hipótese de nunca mais acordar e a paz que o sono me trazia queria eu que fosse eterna.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

XXXVIII

Cada pingo de chuva, pesado, espesso, mole é uma lágrima que o céu deita por mim.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

XXXVII

Entretanto e sem que eu consiga controlar lágrimas gordas e pesadas saltam precipitadamente dos meus olhos e jorram por esta face inexpressiva abaixo.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

XXXVI

Há muito tempo atrás, quando eu era adolescente, sonhava com o dia da minha morte.

Mentalmente delineei todos os passos. Morreria jovem. Morreria só. Os meus (poucos) amigos compreenderiam. Celebrariam a minha libertação dos grilhos da vida.

Deitava-me sem que tivesse morrido porque teria que ser (n)um dia perfeito. Nada de cartas de despedida, apenas perfeito, como eu tinha idealizado.
Deitava-me a pensar que seria se no dia seguinte que eu morreria, estivessem criadas todas as condições para morrer nesse dia.

Ninguém escolhe o modo como se nasce. Alguns podem escolher o modo como se morre. E a minha vida toda baseou-se nisso, na minha escolha sobre a minha própria morte.

Entretanto vieram outras responsabilidades. Cometi o erro de casar. Teoricamente tenho a vida perfeita. Mas eu sei como pesa querer escolher o dia perfeito e a hora perfeita e o modo perfeito e não poder escolher. Há muito tempo que deixei de partilhar esta minha ideia com outras pessoas e mesmo em namoro nunca foi tema abordado. Tenho um lado desconhecido que só eu conheço.

De qualquer modo ainda não sei qual seria a minha opção. Cortar os pulsos implicaria muito sangue. Comprimidos iam adormecer-me e não iria estar totalmente entregue à sensação de me libertar desta vida. Uma queda de edifício poderia prejudicar terceiros e morrer de queda de falésia para o mar, por muio poético que possa parecer, pode dar em paraplegia e não tendo eutanásia como opção o melhor é não correr riscos.

Tenho até ao fim da vida para planear o fim da minha vida.

XXXV

Dói.


Dói que se farta.








Ninguém vê. Ninguém ouve. Ninguém fala.

XXXIV

Há muito tempo que sou mais que uma pessoa sem saber quem sou. Sou este elemento repetitivo e cansativo que não quer sair do fundo - porque mais fundo que o fundo não há - e sou o elemento que levanta todos do fundo - aquele elemento para quem está sempre tudo bem.

Talvez eu seja egoísta e queira o fundo só para mim.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

XXXIII

No fundo o mudar do ano não passa de uma ilusão que todos temos oportunidade de ter e acreditar que vai ser diferente.

Não é, nunca é.

Este ano o brinde não foi ao novo ano que entra mas sim ao ano que passou, um brinde por ter conseguido chegar ao fim.

Um brinde à força de permanecer aqui sem que quem me rodeia se aperceba do esforço.

Tchim tchim.